30/09/2008 -
Por Arthur Virmond de Lacerda Neto
Há
quem descreia no amor entre dois homens e haja, por isto, desistido de
protagonizá-lo. Trata-se de uma descrença resultante, certamente, da
observação de situações alheias e, possivelmente, de decepções pessoais,
cujo efeito é o da desesperança em relação a novos amores. Há, nisto,
um pessimismo que os fatos desmentem ou, ao menos, mitigam.
Em
resultado da homofobia instalada como padrão psicológico nas sociedades
ocidentais, dentre elas a brasileira, a maior parte dos homossexuais,
até aqui, achou-se na impossibilidade de amar abertamente, ao mesmo
tempo em que, manifestando-se a sexualidade ao longo da vida e
correspondendo a uma necessidade permanente, muitos gueis exerciam-na
como expressão única da sua condição homossexual, o que lhes gerou uma
promiscuidade célebre, caracterizada pela pluralidade de parceiros, pela
ausência de afetividade entre eles e pela busca exclusiva da volúpia:
não podendo amar, restava-lhes o transar.
As gerações pretéritas,
e dentre as atuais, as dos indivíduos que contam, hoje, cerca de trinta
anos para mais, foram condicionadas, pelo meio homofóbico, a reprimir a
sua natureza, quero dizer, a frustrar a sua sexualidade e a privar-se
de amar.
Esta última particularidade resultou em que muitos
homens não experimentaram o amor, não aprenderam a estabelecer
compromissos afetivos a sério, não idealizaram uma vida a dois, não
adquiriram o valor da fidelidade, não puderam estabelecer uma comunhão
com quem amassem: da maioria dos integrantes destas gerações não se pode
esperar relacionamentos sérios nem duradouros: em relação a eles, a
descrença na felicidade a dois pode justificar-se.
Todavia, o
preconceito e a promiscuidade vem se alterando, rapidamente, nos últimos
poucos anos: há menos homofobia e mais aceitação; de conseqüência, mais
liberdade de ser homossexual, ou seja, de exercer a sua sexualidade
como uma prática normal e sadia, psicológica e fisicamente, e de amar,
como uma expressão da natureza emocional de cada um.
Entre o amor
heterossexual e o homossexual, não há diferença para mais do sexo dos
envolvidos: em si, o fenômeno é rigorosamente igual. Em ambos, há
atração, encantamento, carinho, anseio por compartilhar cada qual da
vida do outro; em ambos, encontram-se os mesmos problemas: ciúme,
traição, insegurança, desencanto, separações; em ambos, as mesmas
virtudes: fidelidade, companheirismo, adaptação mútua, seriedade,
realização afetiva, felicidade.
Nesta época de maiores aceitação e
liberdade, os homossexuais, em especial os jovens, enfrentam menos
problemas, desfrutam mais do seu corpo e (de longe o mais importante),
muitos moços procuram realizar-se afetivamente. Daí multiplicarem-se os
casais juvenis, antanho inexistentes, em que aos envolvidos repugna a
promiscuidade e em que a volúpia é secundária, animados pela procura de
uma relação estável e sincera com uma pessoa fiel, no ideal de vidas por
partilhar, segundo as preferências individuais de idade e
temperamento.
Há, em curso, uma evolução dos costumes, por efeito
de uma modificação das mentalidades e como causa de adaptações nas
instituições, a exemplo do casamento guei, em perspectiva no Brasil e já
adotado em outros países.
O amor entre iguais existe, já, entre
os jovens e existirá, crescentemente, sobretudo entre eles e (conquanto
em proporção menor) entre os mais velhos, o que vem provocando uma
alteração bem-vinda e acelerada na psicologia dos homossexuais moços,
face ao anseio de muitos deles pela afetividade e ao esforço pela sua
realização, progresso importante no sistema de valores vigente no meio
guei: a felicidade de dois homens entre si corresponde a um objetivo
cada vez mais alcançável e merecedor da tentativa dos interessados
nele
http://www.revistaladoa.com.br/website/artigo.asp?cod=1592&idi=1&xmoe=84&moe=84&id=9112
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