Atitude LGBT Social

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Igreja liga pedofilia a gays e não ao celibato



CIDADE DO VATICANO. Em mais uma tentativa de defender a Igreja dos escândalos de abusos sexuais contra crianças, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, afirmou ontem que é a homossexualidade, e não o celibato, que especialistas relacionam com casos de pedofilia. Segundo as declarações de Bertone, que podem causar polêmica entre grupos gays, a pedofilia é uma patologia que "toca todas as categorias de pessoas e, percentualmente, em menor medida, os sacerdotes".
- Muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há relação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros me disseram recentemente que há relação entre homossexualidade e pedofilia - disse a jornalistas, após pergunta sobre se o celibato estimularia os abusos.
Apesar da declaração, o cardeal também reconheceu que o comportamento dos religiosos que cometeram abusos é "muito grave, é escandaloso".
Outra iniciativa integrante da estratégia de defesa veio do Vaticano, que ontem publicouum documento em sua página na internetdeixando claro, pela primeira vez, que bispos e clérigos devem reportar casos de abuso sexual às autoridades, seguindo as leis civis. Em casos "verdadeiramente graves", diz o texto, só é necessário o aval do Pontífice para reduzir o religioso culpado ao estado laico.
Mas a determinação foi considerada insuficiente pelas vítimas, que acusam a Igreja de deliberadamente ocultar abusos por décadas.
O Vaticano insistiu que a orientação de seguir as leis civis sobre a denúncia de abusos vigora há anos para bispos, assim como para todos os cristãos.
"A lei civil relacionada à denúncia de crimes para as autoridades responsáveis deve ser sempre seguida", diz o texto.
A frase, no entanto, até sexta-feira passada não fazia parte de um rascunho da diretriz. Todo o resto do documento corresponde ao que já havia sido tornado público. O Vaticano não comentou a adição da frase. Segundo Ciro Benedetti, vice-porta-voz da Santa Sé, o texto foi redigido em 2003 e foi divulgado agora em nome da política de transparência imposta por Bento XVI.
- É uma frase, e na prática não é nada, a não ser que vejamos sinais concretos de que bispos estão respondendo a ela - disse Joelle Casteix, diretora regional da Rede de Sobreviventes de Abusados por Padres (Snap, na sigla em inglês).
Segundo Joelle, se o Vaticano quisesse realmente mudar de rumo, "seria mais eficaz demitir ou remover bispos que claramente colocaram crianças em risco, permitiram abusos e esconderam crimes, em vez de acrescentar uma frase a uma diretriz que é raramente seguida com consistência".
O chamado "Guia para Entender os Procedimentos Adotados pela Congregação da Doutrina da Fé nos Casos de Supostos Abusos Sexuais" explica que a legislação aplicável em casos de abusos são as normas estabelecidas pelo Papa João Paulo II em 2001, chamadas Defesa da Santidade do Sacramento (SST), e pelo Código Canônico de 1983.
A polêmica SST foi redigida pelo então prefeito da Congregação da Doutrina para a Fé e hoje Papa, Joseph Ratzinger. A instrução secreta determinava que arquidioceses informassem à Congregação todas as acusações de abuso de menores por padres e reafirmava a necessidade de os processos serem mantidos em sigilo, sob pena de excomunhão imediata e irrevogável. Não há rastros dessa norma no guia publicado ontem.
- São primeiros passos tímidos - disse Roberto Mirabile, à frente da associação italiana La Caramella Buona.

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