Atitude LGBT Social

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Assumir-se como homossexual e “Sair do Armário”


O desenvolvimento vital dos heterossexuais é bem previsível e mais tranqüilo que o dos homossexuais. O jovem heterossexual não precisa passar por um processo para assumir para si mesmo e nem para os outros que é heterossexual. Segundo Castañeda (2007), como a homossexualidade ainda é considerado um tabu nas culturas ocidentais, o adolescente homossexual tem inúmeras dificuldades para lidar com a sua sexualidade diferente e estigmatizada.

O processo de assumir-se como homossexual vai desde a noção dos seus sentimentos e desejos, que são diferentes dos seus colegas, até a visibilidade e conhecimento do homossexual pelos estranhos. Para Isay (1998), a consciência de que se é gay se intensifica no início da adolescência por meio de desejos e fantasias homossexuais e por práticas sexuais. Se o adolescente tem experiências homossexuais satisfatórias, há uma motivação para que ele tenha uma auto-imagem saudável que facilitará assumir-se perante amigos gays, adultos e posteriormente aos pais e outros familiares.

O adolescente homossexual inicia esta etapa de sua vida com uma sobrecarga e uma liberdade não compartilhadas pelos adolescentes heterossexuais. Alguns já se viam e se sentiam diferentes desde crianças e, quando adultos, conseguem resgatar a lembrança de terem um comportamento atípico (Isay, idem).

Os adolescentes de doze a quinze anos muitas vezes reprimem ou suprimem seus sentimentos e desejos porque percebem o preconceito nas atitudes dos pais e amigos em relação aos sujeitos gays (Isay, idem). Segundo Mott (1996, p. 45), é desorientador em termos emocionais e sociais para um adolescente se assumir como homossexual, pois isso significa enfrentar provável rejeição e/ou discriminação pela sociedade. Diante de barreiras dessa natureza, há homossexuais que se isolam, sem compartilhar seus sentimentos e provável sofrimento.

A autopercepção do adolescente homossexual é a tarefa mais importante do desenvolvimento do processo de se assumir. É o início da consolidação e da integração de sua orientação sexual. A princípio, o início da sexualidade dos homossexuais poderia se integrar positivamente, mas se torna um processo árduo e difícil para muitos por causa da rejeição inicial dos pais, depois dos amigos e dos estranhos (Isay, 1998).

Seria razoável supor que, assim como o adolescente heterossexual, o adolescente homossexual de doze ou treze anos estaria preparado para reconhecer a sua homossexualidade a partir do surgimento dos impulsos sexuais na época da maturação psicológica; mas há vários motivos para a demora neste processo, um deles é a sua auto-estima danificada. Assim, provavelmente, é a partir dos dezoito anos que os adolescentes homossexuais são capazes de assumir para si mesmos a sua homossexualidade (Mott, 1996).

De acordo com Castañeda (2007), para que o adolescente seja capaz de se assumir para si mesmo, é necessário que ele não se sinta relativamente preso aos danos causados à sua auto-estima, para ser superior à negação de seus sentimentos por pessoas do mesmo sexo, negação provocada pela sensação de ter sido rejeitado pelos pais, amigos e estranhos e por ser estigmatizado socialmente. É importante que ele tenha adquirido independência suficiente e autoconfiança para se assumir para si mesmo, a ponto de perceber que nunca será capaz de corresponder às expectativas de seus pais, no que se relaciona a uma vida convencional com família tradicional. Para Isay (1998, p. 81), “o adolescente gay que se assume tem oportunidade de planejar a sua vida sem ser coagido pelas expectativas e convenções sociais. Estas oportunidades trazem consigo a liberdade, assim como a responsabilidade, de determinar o seu próprio futuro”. A respeito do momento de assumir, trataremos nos próximos parágrafos.

O vocábulo inglês closet originou-se do latim clausum, particípio presente do verbo claudere, que significa “fechar” e tem outros significados antes de se referir ao homoerotismo. Designa, então, já designou um lugar reservado ou privado onde se tem conversações secretas ou um local para guardar objetos valiosos. Assim, representa o particular em oposição ao coletivo; o escondido em oposição ao que está descoberto; o pessoal em oposição ao social. Nesse sentido, a expressão to come out of closet ( “sair do armário” ou “Coming Out”) diz respeito ao fato de o sujeito homossexual assumir plenamente a sua homossexualidade em todas as suas relações (famíliar, escolar, profissional, amigos e estranhos) (Ferreira, 2007).

Neste trabalho, entendemos a expressão “sair do armário” como o momento em que o adolescente inicia a sua vida sexual e revela-se como gay em um nível íntimo (para si mesmo, família ou amigos) ou social (estranhos, escola ou trabalho). Essa expressão é complexa, pois não envolve somente o período da descoberta homossexual do adolescente, mas durante toda a vida do homossexual quando a sua sexualidade velada pode ser descoberta. Segundo Sedwick (1994), até os homoeróticos que assumem a sua sexualidade para os outros ou os mais abertos podem estar presos no armário com alguém pessoal, econômica ou institucionalmente importante para eles.

O termo “saindo do armário” demonstra um avanço no sentido de dar maior visibilidade, assegurando o respeito aos vínculos homoafetivos. Como bem diz Lead (1996), um fato marcante é o ‘armário’ em que o silêncio, o segredo, o disfarce, a privacidade e a restrição são características que o definem, sendo um obstáculo primário para autodeterminação gay. Considera o autor ‘saindo do armário’ como a culminação do movimento da individualização para a revelação, segundo Davies (1992, p. 76), e ainda para Plummer (1995, p. 82) “o ato mais significativo na vida de lésbicas e gays”.

O homossexual nunca está 100% fora do armário. Mesmo que tenha perfeitamente assumido a sua homossexualidade não podemos afirmar que ele saiu totalmente do armário, pois sempre haverá pessoas ou situações novas que ele será considerado heterossexual até que o descubram. Isso não uma visão sobre a integridade do homossexual, mas de como a sociedade automaticamente vê outro, sempre como heterossexual (Castañeda, 2007).

Apesar da família ou amigos saberem ou desconfiarem da orientação sexual do homossexual, continuarão, muitas vezes, a tratá-lo como se fosse um heterossexual. Muitos pais têm a esperança de que o filho adolescente só esteja passando por uma fase e que, a qualquer momento, aparecerá em casa com uma namorada. O fato também do adolescente homossexual se passar por heterossexual em festas e na escola faz com que o jovem permaneça fechado, escondido e sem ser descoberto. Assim, segundo Castañeda (2007, p. 106), “o famoso armário não serve para apenas para se esconder, mas também para esconder o que a sociedade se recusa a ver”.


Izaac Azevedo dos Santos
Mestre em Letras pela PUC-Rio
Caro leitor,
Deixe suas dúvidas e comentários que responderei.
Abraços!
Izaac Azevedo
e-mail: izaac.azevedo@gmail.com
MSN: newton.chris@hotmail.com


Referências Bibliográficas
CASTAÑEDA, Marina. A experiência homossexual. São Paulo: A Girafa, 2007.
DAVIES, P. The role of disclosure in coming out among gay men. In: Ken Plummer (ed.), Modern homosexualities. New York: Routledge, 75-85, 1992.
FERREIRA, R. C. O Gay no Ambiente de Trabalho: análise dos efeitos nas organizações contemporâneas. Dissertação de Mestrado. Departamento de Administração. Universidade de Brasília: Brasília, 2007.
ISAY, Richard A. Tornar-se gay: o caminho da auto-aceitação. São Paulo: Summus, 1998.
LEAP, Willian. Language, Socialization, and Silence i Gay Adolescence. In:
Bucholtz, Mary; Liang, A.C. e Sutton, Laurel A. (eds) Reinventing
identities: the gendered self in discourse. New York/ Oxford: Oxford
University Press, 1999. p. 259-272.
LEERS, B. Homossexuais e ética cristã. Campinas: Átomo, 2002. RIO Grande do Sul. Assembléia Legislativa. Comissão de Cidadania e Direitos Humanos. Relatório azul: garantias e violações dos direitos humanos no RS. Porto Alegre: Assembléia Legislativa do Estado do RS, 2002.
LIANG, A.C. Conversationally implicating lesbian and gay identity. In:
Bucholtz, Mary; Liang, A.C. e Sutton, Laurel A. (eds) Reinventing
identities: the gendered self in discourse. New York/ Oxford: Oxford
University Press, 1999. p. 293-310
MOTT, L. Os homossexuais: as vítimas principais da violência. In: VELHO, G.;
PLUMMER, K. Telling sexual stories: Power, change and social worlds. London: Routledge, 1995.
SEDGWICK, E. K. Epistemology of the Closet. Berkeley / Los Angeles: University of California Press, [1990]1994.


Texto extraído da dissertação de Mestrado:
SANTOS, Izaac Azevedo dos. Narrativas de um adolescente homoerótico: conflitos do ‘eu’ na rede de relações sociais da infância à adolescência. Rio de Janeiro, 2008. Dissertação de Mestrado – Departamento de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Texto completo na internet:
http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.php?open=1&arqtese=0610578_08_Indice.html
http://www.gay1.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário