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sábado, 22 de janeiro de 2011

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Psicólogo fala dos desafios para se assumir LGBT

Por Estruturação em 11.10.2010 : : 17h21
Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. A frase é de Caetano Veloso e resume bem o caminho pessoal que dada LGBT precisa fazer até se assumir e ser, no social, o que se é para si mesmo. Nesta entrevista especial para a ação do Dia de Sair do Armário 2010, o psicólogo Clayton Severiano, um dos profissionais que atendem no Centro de Assistência LGBT do Estrutração – Grupo LGBT de Brasília, fala sobre o assumir e que ele pode significar para cada indivíduo.
Você concorda que, antes de uma pessoa se assumir para família, amigos, escola e trabalho, por exemplo, ela precisa estar bem com ela mesma? Por quê?
Estar bem consigo mesmo é fundamental para todo ser humano. Não é à toa que o primeiro mandamento de várias religiões reza “amar o próximo como a si mesmo”. Acredito que a expressão “a si mesmo” não foi incluída de graça no mandamento. Ela quer dizer, no meu entender, que seria impossível amar o outro, sem me amar primeiro.
Seria ótimo se eu pudesse me assumir para o outro apenas quando eu estivesse bem comigo mesmo. Mas nem sempre será possível. Às vezes, terei que me assumir assim mesmo, dentro do turbilhão das emoções, em meio à tempestade da dúvida e do medo da reação do outro. Muitas vezes, o “se assumir para o outro” faz parte do próprio processo de “estar bem” ou de “ficar bem” comigo mesmo.
Por fim, cabe lembrar que somente cada um sabe onde “aperta o sapato”. Ou seja, a decisão de “sair do armário” é pessoal, subjetiva, e não obedece a regras rígidas. Pode acontecer aos 7 anos, aos 15, aos 60. Ninguém deve se sentir coagido a assumir algo que não queira.
Mas é nesse momento que o exemplo daquelas pessoas que se assumiram será fundamental: mostrar que “se assumir” nem sempre é aquele “bicho de sete cabeças”, e que em grande parte das vezes quase todos já percebiam ou desconfiavam da nossa orientação sexual.
Além de apoio psicológico, abrir-se para alguém - amigo, professor, familiar - pode ajudar uma pessoa no processo de ela se sentir bem como LGBT e, a partir daí, construir um caminho até se assumir?
Dentro de todo círculo de relacionamento há sempre pessoas que são mais flexíveis (ou menos resistentes) que outras. É nessas pessoas - sejam amigas, professoras, ou pessoas da nossa família - que encontramos um ouvido mais compreensivo e uma atitude de mais amor e respeito. Essas pessoas são fundamentais para o fortalecimento da nossa rede social, aquela que nos dará apoio quando finalmente sairmos do armário.
Quanto à figura do psicólogo, é importante lembrar que ele também é um ser humano, e que muitas vezes está inserido em estruturas centenárias de prática da homofobia. Nesse caso é preciso ficar atento, pois todo psicólogo brasileiro segue regras claras de que nunca poderá atuar no sentido de “curar” a homossexualidade. A psicologia é uma profissão e um ramo da ciência, e por isso não pode se confundir, por exemplo, com a prática religiosa do(a) psicólogo(a).
Psicologicamente, ter de mentir que é heterossexual, se passar por alguém que não se é pode acarratar que prejuízos a uma pessoa?
Mais uma vez teremos aqui que levar em consideração a configuração subjetiva de cada um, ou seja, em que contextos sócio-históricos, políticos e econômicos cada um está inserido.
Mas em muitos casos, o não se assumir poderá acarretar sofrimento psicológico dos mais variados tipos e graus. E como se isso não bastasse, o corpo, que é um todo, um sistema complexo, quase sempre sofrerá prejuízos.
Muitos problemas de saúde físicos e psicológicos podem estar acontecendo, e não nos darmos conta de que eles possuem uma ligação direta com a negação da nossa identidade, com o não reconhecimento da nossa dignidade por nós e pelos outros.
Muitas vezes, vamos ao médico para curar, por exemplo, uma dor de cabeça. Ela pode ter fortes ligações com uma tristeza cuja origem é justamente o fato de não termos nossa identidade e dignidade reconhecidas pelo outro.

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