O Eterno debate da Opção
Não importa o tema que você comece a discutir, se ele tiver relação com a homossexualidade, mais cedo ou mais tarde, a palavra opção vai aparecer. Parece algo banal, mas na raiz de muitas das negativas aos direitos gays está a firme crença de que homossexualidade é uma escolha. E a partir daí, como se trata de uma decisão consciente, não cabe qualquer tipo de proteção. Alegam os partidários desse conceito que os direitos dados a minorias étnicas como índios, a grupos sociais mais frágeis como idosos e crianças ou a setores oprimidos como mulheres e negros, não podem ser estendidos a homossexuais por que eles escolhem esse “estilo de vida”, enquanto negros e mulheres assim nascem. Ignoram ou fingem ignorar que a homossexualidade está presente entre todos os povos, em todas as eras. Pinturas rupestres, dos homens da caverna, mostram relações homossexuais. A antiguidade clássica a louvava como única expressão possível de amor total (amor entre iguais). Ela está presente entre os animais de centenas de espécies. E a humanidade não deixou de existir nem de se desenvolver por causa disso.
Como numa expressão matemática, a afirmação de que a homossexualidade é uma opção só pode ser real, SE E SOMENTE SE, a heterossexualidade também fosse uma opção. Assim teríamos para cada ser humano do mundo a livre escolha entre uma ou outra forma de viver a sexualidade. Ora, é claro que tal afirmação é absurda. Ninguém OPTA pela heterossexualidade. Não existe um momento da vida, aos 13, 15 ou 21 anos em que nos olhamos no espelho e fazemos uma DECISÃO CONSCIENTE de gostar de meninos ou meninas. A heterossexualidade aflora naturalmente durante o desenvolvimento afetivo e sexual dos seres humanos. A atração pelo sexo oposto, assim como pelo mesmo sexo, vai surgir naturalmente durante a vida.
A única opção que temos em relação a sexualidade é exercê-la ou não. Isso sim é uma decisão. Ou talvez nem seja a palavra correta. Existem pessoas que podem sublimar, por vontade pessoal ou pressão da sociedade, seus desejos sexuais. Se isso é saudável ou não eu não vou me atrever a discutir nesse momento. Mas a questão é que isso não faz eles desaparecerem. Pergunte a um padre celibatário se ele nunca teve desejos. Se for sincero, ele dirá que sim. O celibato, voluntário ou forçado, não transforma ninguém em assexuado. Celibatário ou não, o ser humano continua tendo desejos e permanece apto ao ato sexual por toda a sua vida.
Mesmo aqueles que pregam uma suposta “cura da homossexualidade” vão afirmar que é impossível mudar o desejo. Muda-se o comportamento. O que então está se pedindo a gays e lésbicas com esse discurso cruel de opção? Que eles escolham entre negar o próprio desejo a vida inteira, um desejo natural e sobre o qual eles não tem responsabilidade ou que arquem com as consequências de vivê-lo. E que arquem com as consequências sem nenhuma proteção do Estado. Aqueles que gritam por proteção legal são chamados de gayzistas e acusados de querer direitos especiais.
Lilah Bianchi, carioca, 43 anos, atualmente vive na Bolívia. Mãe do Lipe, do Victor, do Lucas e do Saulo. Professora Universitária e escritora amadora. Que viu o mundo tomar uma virada quando ouviu um deles dizer: Mãe, sou Gay! O resultado? Esse está em seu blog onde este texto foi postado inicialmente.
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