Atitude LGBT Social

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Por Lilah Bianchi

Não importa o tema que você comece a discutir, se ele tiver relação com a homossexualidade, mais cedo ou mais tarde, a palavra opção vai aparecer. Parece algo banal, mas na raiz de muitas das negativas aos direitos gays está a firme crença de que homossexualidade é uma escolha. E a partir daí, como se trata de uma decisão consciente, não cabe qualquer tipo de proteção. Alegam os partidários desse conceito que os direitos dados a minorias étnicas como índios, a grupos sociais mais frágeis como idosos e crianças ou a setores oprimidos como mulheres e negros, não podem ser estendidos a homossexuais por que eles escolhem esse “estilo de vida”, enquanto negros e mulheres assim nascem. Ignoram ou fingem ignorar que a homossexualidade está presente entre todos os povos, em todas as eras. Pinturas rupestres, dos homens da caverna, mostram relações homossexuais. A antiguidade clássica a louvava como única expressão possível de amor total (amor entre iguais). Ela está presente entre os animais de centenas de espécies. E a humanidade não deixou de existir nem de se desenvolver por causa disso.
A verdade mais clara atual é que não existe consenso sobre as causas da homossexualidade. Não se sabe se elas são genéticas, congênitas ou adquiridas. Mas daí a se sustentar que existe uma escolha consciente pela a atração pelo mesmo sexo vai um caminho longo e com alguns argumentos que podem ser destruídos a luz do próprio senso comum. Pense comigo, meu caro leitor: quando eu falo em opção significa que existem duas ou mais possibilidades, igualmente viáveis, para fazer algo. Dessa forma, para falar em opção sexual, seria necessário que existissem duas ou mais formas de expressão da sexualidade IGUALMENTE VIÁVEIS para todos os seres humanos. Então, eu pergunto a você, que é heterossexual, é viável para você optar pela homossexualidade?
Como numa expressão matemática, a afirmação de que a homossexualidade é uma opção só pode ser real, SE E SOMENTE SE, a heterossexualidade também fosse uma opção. Assim teríamos para cada ser humano do mundo a livre escolha entre uma ou outra forma de viver a sexualidade. Ora, é claro que tal afirmação é absurda. Ninguém OPTA pela heterossexualidade. Não existe um momento da vida, aos 13, 15 ou 21 anos em que nos olhamos no espelho e fazemos uma DECISÃO CONSCIENTE de gostar de meninos ou meninas. A heterossexualidade aflora naturalmente durante o desenvolvimento afetivo e sexual dos seres humanos. A atração pelo sexo oposto, assim como pelo mesmo sexo, vai surgir naturalmente durante a vida.
A única opção que temos em relação a sexualidade é exercê-la ou não. Isso sim é uma decisão. Ou talvez nem seja a palavra correta. Existem pessoas que podem sublimar, por vontade pessoal ou pressão da sociedade, seus desejos sexuais. Se isso é saudável ou não eu não vou me atrever a discutir nesse momento. Mas a questão é que isso não faz eles desaparecerem. Pergunte a um padre celibatário se ele nunca teve desejos. Se for sincero, ele dirá que sim. O celibato, voluntário ou forçado, não transforma ninguém em assexuado. Celibatário ou não, o ser humano continua tendo desejos e permanece apto ao ato sexual por toda a sua vida.

Mesmo aqueles que pregam uma suposta “cura da homossexualidade” vão afirmar que é impossível mudar o desejo. Muda-se o comportamento. O que então está se pedindo a gays e lésbicas com esse discurso cruel de opção? Que eles escolham entre negar o próprio desejo a vida inteira, um desejo natural e sobre o qual eles não tem responsabilidade ou que arquem com as consequências de vivê-lo. E que arquem com as consequências sem nenhuma proteção do Estado. Aqueles que gritam por proteção legal são chamados de gayzistas e acusados de querer direitos especiais.
Ora, se eu, que não optei pela heterossexualidade, mas que nasci assim, tenho direitos resguardados por lei por que devo querer impedir que tais direitos sejam estendidos aos homossexuais? Por que é só isso que se pede. Igualdade. Eu não sei quais as “causas” da homossexualidade e nem por que ela é mais predominante em algumas famílias. E sinceramente sempre suspeito de quem quer tanto apontar “causas” como se buscasse uma “cura” a partir delas. Ainda que ela fosse uma opção, o que claramente não é, o que justifica o medo e o preconceito contra ela? Dois adultos livremente consentidos que mantenham relações sexuais, seja de que forma for, interfere no que em relação a sua vida heterossexual? Onde está então o direito a liberdade de decidir? Vale para algumas coisas e outras não? O Estado tem por obrigação garantir a liberdade de seus cidadãos, suas vidas, direitos e garantias fundamentais. E nenhum direito de decidir a quem eles amam.


Lilah Bianchi, carioca, 43 anos, atualmente vive na Bolívia. Mãe do Lipe, do Victor, do Lucas e do Saulo. Professora Universitária e escritora amadora. Que viu o mundo tomar uma virada quando ouviu um deles dizer: Mãe, sou Gay! O resultado? Esse está em seu blog onde este texto foi postado inicialmente.

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