Atitude LGBT Social

sexta-feira, 27 de maio de 2011


Movimento gay reage a suspensão de kit anti-homofobia

Entidades que representam o movimento LGBT no Brasil reagiram à decisão da presidenta Dilma Rousseff de cancelar a distribuição do kit anti-homofobia nas escolas do país. A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), em nota conjunta com a Articulação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e a Articulação Brasileira de Lésbicas (ABL), classificou de “chantagem” a pressão feita pela bancada religiosa contra a distribuição dos kits.
Ao justificar a decisão, a presidenta afirmou que o conteúdo do kit não atendia o objetivo de combater a discriminação e só faria “propaganda de opções sexuais” – exatamente o mesmo argumento usado pelos líderes evangélicos, como o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ). “O governo defende a educação e a luta contra práticas homofóbicas, no entanto, não vai ser permitido a nenhum órgão do governo fazer propaganda de opções sexuais, nem podemos interferir na vida privada das pessoas”, disse Dilma Rousseff nesta quinta-feira 26.
Um dia antes, as entidades que representam o movimento ABGLT haviam afirmado que o governo era vítima de chantagem patrocinada pelos líderes religiosos. “Um princípio básico do estado republicano está sendo ameaçado pela chantagem praticada hoje contra o governo federal pela bancada religiosa fundamentalista e seus apoiadores no Congresso Nacional”, afirmou a ABGLT em nota. “Os direitos humanos de um determinado segmento da sociedade não podem, jamais, virar moeda de troca nas negociações políticas”, criticou a entidade.
A declaração se refere a um acordo feito entre o governo e a bancada religiosa para que ela não apoiasse a convocação do ministro Antonio Palocci (Casa Civil) para dar explicações ao Congresso sobre as contas de sua empresa de consultoria. A atividade à frente da empresa mulitplicou o patrimônio do ministro e levou a oposição a pedir informações sobre as atividades do petista como consultor.
Com apoio dos religiosos, o governo decidiu abandonar o projeto de ditribuição dos kits, que era bombardeado pela bancada.
O kit educativo, que faz parte do projeto Escola sem Homofobia, foi avaliado pelo Conselho Federal de Psicologia, pela Unesco e pelo Unaids, e teve parecer favorável das três instituições. Mesmo assim, a presidenta classificou o material como inadequado.
Segundo os parlamentares, o material interferiria na “liberdade religiosa” e conteria cenas fortes e inapropriadas.
Em resposta, os 175 parlamentares que integram a Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT exigem audiência com a presidenta para se manifestar sobre a suspensão.
A queda-de-braço entre as alas pró e contra o movimento gay no Congresso tem provocado bate-bocas acalorados entre seus representantes nos últimos dias. O ápice da discussão aconteceu no último mês, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou a união estável entre pessoas do mesmo sexo.
Pouco antes, o deputado Jair Bolsonaro deu entrevista polêmica ao programa CQC, da Bandeirantes, com críticas aos homossexuais. Em seguida, ele lançou uma campanha contra o “kit-gay” que estava em análise pelo Ministério da Educação. Nos 50 mil panfletos impressos com sua cota parlamentar, o deputado argumentava que o material educativo queria transformar crianças de 6 a 8 anos em homossexuais; ele classificou os defensores do projeto de “homossexuais fundamentalistas”.
O kit, porém, é direcionado ao Ensino Médio, especificamente para a orientação e preparação de professores. “É um projeto de governo que envolveu toda uma pesquisa diagnóstica para saber a real a situação da homofobia dentro da escola e pôde justificar um trabalho especifico de formação de professores”, diz Tais Gavas, da ONG Ecos, que participou da elaboração do Kit.
O combate à homofobia no país é baseado em pesquisas que demonstram o grau de preconceito ainda existente no país. Segundo dados de uma pesquisa de 2009 da Fundação Perseu Abramo, 99% dos entrevistados declararam possuir algum grau de preconceito contra a população lésbicas, gays, bissexuais e travestis; 33% afirmaram ter preconceito “muito forte”.
Dados do Grupo Gay da Bahia indicam também que a cada dois dias uma pessoa é assassinada por causa da homofobia. Esse cenário se reflete também nas escolas. Em pesquisa da Unesco, 28% dos alunos do ensino fundamental e médio do estado de São Paulo disseram que não gostariam de ter homossexuais como colegas de classe.
Entre os homens, a proporção é ainda maior: cerca de 41% dos meninos não toleram colegas gays ou lésbicas. “É um material elaborado para um enfrentamento de uma situação real que muitos adolescentes estão passando,” diz Tais.
Com informações da Agência Brasil
Fonte: CartaCapital

Nenhum comentário:

Postar um comentário